segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O papel da crítica

Seminário Internacional de Crítica Teatral promove debates sobre teatro contemporâneo

HUGO VIANA

A crítica cultural carrega em geral uma proposta reflexiva, de observar um produto artístico e sugerir leituras variadas, não apenas sobre a qualidade da obra, mas também onde ela se encaixa no panorama cultural de sua época. A preocupação da quarta edição do Seminário Internacional de Crítica Teatral, evento que começa neste sábado e vai até o dia 22 deste mês, no auditório do bloco J da Unicap, é debater essa identidade em transição da crítica, discutindo questões que fazem parte da produção teatral dos últimos dez anos e revisando o que esta primeira década do século 21 trouxe. As palestras (às 19h) que fazem parte da programação são gratuitas, a depender da lotação do espaço (as inscrições são feitas via e-mail: seminariodecritica@gmail.comEste endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo. ).

“Há muito tempo que se discute a ausência da crítica teatral nos grandes jornais”, explica Rodrigo Dourado, curador do evento. “O Recife teve atuação crítica forte nos anos 1950 e 60, com gente como Valdermar de Oliveira e Hermilo Borba Filho. Houve associação de críticos, cronistas teatrais, que congregavam uma série de intelectuais. Isso desapareceu mais ou menos nos anos 1990, quando a crítica teatral passou a ser uma atividade esporádica - a indústria cultural privilegia o cinema, a música, a moda, que passaram a ter mais importância do que teatro”, reflete o curador.

É nesse contexto que surgiu a ideia para o primeiro seminário, idealizado por Rodrigo e Wellington Júnior quando os dois ainda eram estudantes respectivamente de jornalismo e artes cênicas, na UFPE, e colavam suas críticas pelos corredores da universidade. Enquanto a primeira edição do seminário, em 2005, evidenciou o processo de historiografia da crítica teatral, convocando os decanos da área (como a carioca Bárbara Heliodora e o paulista Sábato Magaldi), a segunda e a terceira iniciaram um lento processo de reflexão para compreender a crítica teatral na formatação do pensamento analítico atual, algo que continua nesta quarta edição.

O seminário agrupa profissionais de diversas nacionalidades, o que certamente amplia o olhar lançado sobre as questões do teatro feito nesta década. Entre os palestrantes, estão a cubana Vivian Martinez Tabares (dia 14), o inglês Ian Herbert (dia 16), presidente honorário da Associação Internacional de Críticos de Teatro (IACT) e a japonesa Miyuki Takahashi (dia 19). “Embora o Recife se sinta um pouco excluído desse mercado teatral dos grandes centros, em geral em todos os lugares o teatro vive a mesma crise: de popularidade, de influência, de dinheiro. Especialmente o teatro experimental”, alerta Rodrigo. “O teatro que cada vez mais se parece com o cinema e a TV sempre tem dinheiro, mas o que quer continuar sendo teatro encontra dificuldades. Então acho que esse panorama que esta quarta edição promove, convidando profissionais de diferentes países, é bom para situar o Recife na produção do mundo. E eu adiantaria que a gente vai perceber que há mais semelhanças do que diferenças radicais”, reflete o curador.

FONTE: http://www.folhape.com.br/